O ENSINO MÉDICO
A formação médica deve ser, acima de tudo, centrada na prática clínica real, onde os estudantes têm a oportunidade de interagir com pacientes, sob a orientação de instrutores experientes. O ambiente clínico oferece um aprendizado dinâmico e contínuo, que vai além da teoria dos livros, proporcionando uma vivência rica e realista dos desafios que os médicos enfrentarão. A ênfase excessiva em uma cultura livresca e teórica limita a formação do profissional, muitas vezes deixando de lado o desenvolvimento de habilidades práticas cruciais para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes.
Nos grandes centros de ensino, é fundamental que a estrutura ofereça acesso a uma quantidade significativa de pacientes, permitindo que os alunos pratiquem e vivenciem situações clínicas diversas. Isso só é possível com a supervisão de profissionais experientes, que garantem que o aprendizado seja eficaz e seguro. A teoria, enquanto importante, deve ser utilizada de forma a contextualizar e problematizar as situações práticas que o aluno vivencia, e não simplesmente reproduzir o conteúdo dos livros.
As aulas devem, então, ser focadas em uma análise crítica e na aplicação do conhecimento ao cotidiano clínico, preparando os alunos para pensar de forma autônoma, entender os sistemas de pensamento subjacentes e tomar decisões fundamentadas. Um ensino inteligente exige um aluno bem preparado, capaz de refletir sobre o que está acontecendo na prática e não apenas repetir o que é ensinado. A medicina não deve ser reduzida a um simples exercício técnico ou à busca por um diploma; ela exige um entendimento profundo das necessidades humanas, das relações entre paciente e profissional, e das implicações éticas e sociais das decisões médicas.
O risco de uma abertura indiscriminada de faculdades de medicina sem os devidos critérios de qualidade é um agravante significativo. Sem a estrutura necessária, sem professores qualificados e sem acesso a um número adequado de pacientes, o estudante não será exposto ao aprendizado clínico que é essencial para a formação de um bom médico. A ausência de qualidade na formação, portanto, gera profissionais despreparados, que podem não apenas cometer erros médicos, mas também comprometer a confiança da sociedade no sistema de saúde.
Reduzir a medicina a um processo mecânico e técnico é utilitarista e contraproducente, pois, ao fazer isso, negligencia-se o principal: a evolução contínua da prática médica, que só é possível com uma formação robusta, crítica e humanizada. Uma medicina sem reflexão profunda sobre suas práticas é prejudicial não apenas para os pacientes, mas para toda a sociedade, que depende de profissionais bem preparados e conscientes do seu papel no cuidado à saúde.